Assim, além da crise sanitária, o mundo entra em recessão econômica. Nesse momento, o
Ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a economia brasileira estava
decolando[26] antes da pandemia, mas os indicadores sugerem o contrário. O crescimento
do PIB em 2019 foi menor do que o apresentado em 2018, o que indica na verdade uma
desaceleração da economia.
O governo Bolsonaro subestimou a gravidade da crise sanitária e econômica, sendo contra
as medidas de isolamento social e promovendo um falso dilema[27] , entre salvar a saúde
coletiva ou a economia. No entanto, tais medidas foram implementadas pelos
governadores e prefeitos para diminuir o contágio e a superlotação dos hospitais e,
portanto, evitar o colapso da saúde pública e privada no país.
A economia praticamente parou, sendo a indústria e o setor de serviços os mais
impactados pela pandemia. A taxa de desemprego aumentou para 13,7% em 2020; a
informalidade caiu, mas foi provocada pelo isolamento social implementado no período.
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias caiu 5,4% e as exportações 2,3%. Com
efeito, o PIB do país caiu 4,0% em 2020.
Para enfrentar as duas crises, o Congresso Nacional aprovou o estado de calamidade
pública que autorizava o governo a descumprir a meta do resultado primário de 2020. O
Congresso também aprovou o chamado "orçamento de guerra", um conjunto de despesas
primárias que ficaram fora do teto de gastos públicos. Esses recursos foram direcionados
para o Sistema Único de Saúde (SUS), para estados e municípios e para o pagamento de
um auxílio emergencial destinado aos trabalhadores que tiveram sua renda afetada pela
pandemia.
No que diz respeito a esse auxílio, foi pago um valor de R$ 600 iniciando em abril e válido
por três meses, beneficiando 61 milhões de pessoas (equivalente a mais de quatro vezes o
número de beneficiários do Bolsa Família). Depois, foi prorrogado até dezembro de 2020
em valor menor, R$ 300[28].
Para tentar preservar os empregos, o governo aprovou outra medida provisória (MP nº
936/2020) que permitia às empresas reduzirem a jornada de trabalho e o salário de seus
empregados em até 70%, mas recebendo um benefício complementar pago pelo governo.
Para ampliar a liquidez e o crédito, dentre outras medidas, o Banco Central cortou a taxa
de juros, alcançando a taxa mínima histórica de 2% ao ano no final de 2020 (vide Figura 6).
Se, por um lado, os gastos do governo aumentaram com a pandemia, por outro lado a
pandemia provocou uma forte queda na arrecadação. Esses dois efeitos contrários
elevaram o déficit primário de 1,3% do PIB em 2019 para quase 10% em 2020 (Figura 5).
A dívida líquida passou de 64,3% do PIB para 74,3% no mesmo período.
[26] Vide Reuters (2020).
[27] O desempenho da economia brasileira não foi superior de forma significativa em relação as outras economias que fizeram políticas
de lockdown, como mostra Araújo (2023).
[28] A proposta original do governo Bolsonaro era um valor de R$ 200,000 e após negociações com o governo federal, a Câmera dos
Deputados aprovou o valor para R$ 600,00. Veja Barbosa e Prates (2020) para uma avaliação dessas medidas durante a pandemia
sobre a pobreza e desigualdade na economia brasileira.