Artículo de investigación
Concepções psicossociais da velhice LGBT entre universitários brasileiros
Conceptos psicosociales de la vejez LGBT entre universitarios brasileños
Jose Victor de Oliveira Santos
https://orcid.org/orcid.org/0000-0002-6661-2873
Karolyna Pessoa Teixeira Carlos
https://orcid.org/orcid.org/0000-0002-0270-5894
Universidade Federal do Desta do Parnaíba (UFDPar) (Brasil)
Lidiane Silva de Araújo
https://orcid.org/orcid.org/0000-0001-7160-4379
Universidade Federal do Mat Grosso (Brasil)
Ludgleydson Fernandes de Araújo
https://orcid.org/orcid.org/0000-0003-4486-7565
Universidade Federal do Desta do Parnaíba (UFDPar) (Brasil)
Correspondencia: victorolintos@hotmail.com
Resumo
O presente estudo teve como escopo verificar e comparar as representações sociais de três grupos de estudantes universitários dos cursos de direito, psicologia e pedagogia acerca do envelhecimento LGBT. A amostra foi composta por 30o estudantes universitários uma IES privada. Foi usada a Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP), utilizando-se o método de análise fatorial de correspondência - AFC, através do software Tri Deux Mots. Como resultados observou-se que emergiram representações em dois pólos antagônicos: por um lado, o direito que cada indivíduo tem em fazer suas escolhas sexuais independente da fase da vida que se encontram, por outro lado, o preconceito sofrido pelos LGBTs, agravando-se quando trata-se de pessoas idosas. Espera-se contribuir para o desenvolvimento da temática, ainda pouco estudada e divulgada, para que assim haja uma maior compreensão dos novos arranjos da sociedade contemporânea.
Palavras chave: Velhice, Universitários, Velhice LGBT, Sexualidade, Representações Sociais.
Resumen
El presente estudio tuvo como objetivo verificar y comparar las representaciones sociales de tres grupos de estudiantes universitarios de los cursos de derecho, psicología y pedagogía acerca del envejecimiento LGBT. La muestra fue rompuesta por 30o estudiantes universitarios una IES privada. Se utilizó la Técnica de Asociación Libre de Palabras (TALP), utilizando el método de análisis factorial de correspondencia - AFC, a través del software Tri Deux Mots. Como resultados se observó que surgieron representaciones en dos polos antagónicos: por un lado, el derecho que cada individuo tiene en hacer sus elecciones sexuales independiente de la fase de la vida que se encuentran, por otro lado, el prejuicio sufrido por los LGBT, agravándose cuando se trata de personas mayores. Se espera contribuir al desarrollo de la temática, aún poco estudiada y divulgada, para que así haya una mayor comprensión de los nuevos arreglos de la sociedad contemporánea.
Palabras clave: Vejez, Universitarios, Vejez LGBT, Sexualidad, Representaciones Sociales. .
Introdução
O prolongamento da expectativa de vida no Brasil, em que atualmente situa em 75,5 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2015), é um reflexo das políticas de atenção básica direcionadas aos idosos, como o acesso a políticas de saúde biopsicossociais (Ferreira, Santos, & Maia, 2012). A velhice é entendida como uma fase desenvolvimental que envolve características comuns ao processo normal de envelhecimento, e também características idiossincráticas que variam de pessoa para pessoa (Neri, 2014). Segundo a Organização Mundial de Saúde (2015), são considerados idosos, pessoas acima de 60 anos em países subdesenvolvidos e 65 anos em países desenvolvidos, com isso, a população idosa no Brasil aproxima-se de 27,8 milhões (IBGE, 2015).
Com o crescimento da população idosa, as pessoas LGBT - lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis também atingem a marca da velhice, com isso, a sexualidade que já negligenciada em pessoas cisgênero heterossexuais, forma ainda mais tabus, estigmas e preconceitos concernindo ao seu modo de viver. Ressalta-se, que a sexualidade vai além do ato sexual, permitindo expressar os atravessamentos, de afeto, companheirismo, desejo e amor, que resultam em bemestar psicossocial (Solise & Medeiros, 2016; Vieira, Miranda, & Coutinho, 2012).
O processo de envelhecimento das pessoas LGBT é negligenciado pela ciência, mas vêm sendo discutido na área da gerontologia, bem mais que na geriatria, diferentemente da velhice em geral, que é mais abordada pela perspectiva biológica (Araújo & Fernandéz-Rouco, 2016). A gerontologia discute que a velhice LGBT traz consigo o preconceito a partir de dois âmbitos, o de ser idoso e ser LGBT (Marques & Sousa, 2016), no qual é notório que o preconceito sexual e ageísmo contribuem para as dificuldades dessa população em conquistar direitos, e que estes, não sejam baseados em igualdade, mas sim equidade, afinal as pessoas LGBT possuem suas diferenças, e a busca por direitos é pela garantia de subsídios e políticas públicas de segurança e de saúde (Souza & Helal, 2016).
O Sistema Único de Saúde a partir do princípio de integralidade, visa a prática dos profissionais juntamente com um serviço organizado, atender as demandas de toda a população com serviços que se adequem às formas diferenciadas de cada grupo (Mello, Perilo, Braz, & Pedrosa, 2011). Diante do panorama de saúde pública do país, o Ministério da Saúde elaborou uma política nacional de saúde integral de pessoas LGBT, em que o objetivo geral é "Promover a saúde integral de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, eliminando a discriminação e o preconceito institucional, bem como contribuindo para a redução das desigualdades e a consolidação do SUS como sistema universal, integral e equitativo" (Brasil, p. 18, 2013).
Ao dialogar com a proposta do Ministério da Saúde, Tarquino e colaboradores (2015), abordam que o manejo frente as questões da sexualidade são deficientes e que os profissionais tem dificuldade com o tema devido à escassez de estudos e de capacitações profissionais. Depois de muitos anos de militância, o público LGBT conquista alguns direitos, porém ao mesmo tempo que existem, pouco se avança no desenvolvimento de práticas que favoreçam o grupo (Tarquino et al. , 2015).
Para Ceará & Dalgalarrondo (2010) a qualidade de vida entre os idosos não se diferencia quando refere-se aos domínios psicológicos, físicos e ambientais, porém no social, apontam que os idosos homossexuais apresentam qualidade de vida melhor. Outro autor, traz que a negação da velhice faz com que idosos LGBT não se sintam velhos e usam de todos os artifícios para que o bem-estar e autoestima esteja presente em todas as fases do desenvolvimento (Passamani, 2013). Um fator que dificulta a qualidade de vida são as manifestações de preconceito (Tarquino et al., 2015). Cada ser humano é idiossincrático, assim, a qualidade de vida irá se diferenciar de acordo com os atravessamentos vivenciados, mas um dado é certo, o governo deve subsidiar ações em saúde e serviço social para promover o envelhecimento saudável da população LGBT (Santos, Carlos, Araújo, & Negreiros, 2017).
Esse estudo em questão, busca compreender se idosos LGBT possuem subsídios para envelhecer de forma tranquila, e com isso, utiliza-se a teoria das representações sociais, que serve para analisar conteúdos compartilhados no senso comum, que se tornam científicos. As representações sociais se encontram imbricadas com as diferenças nas formas de interpretar os objetos na sociedade, e assim como existem diversas culturas, as representações sociais podem variar de acordo com as crenças e valores que permeiam cada indivíduo (Moscovici, 2017).
Neste sentido, depreende-se que as representações sociais possuem a capacidade de significar a complexidade dos fenômenos sociais e de orientar e justificar as práticas, isso através dos processos comunicativos que permeiam as interações intra e intergrupo (Jodelet, 2001). Dado que as representações são sensíveis à realidade vivida pelos diferentes atores, possibilita o entendimento do caráter ao mesmo tempo particular e universal do conhecimento produzido e instrumentalizado. Diante do exposto, o presente artigo tem o escopo de verificar e comparar as representações sociais de três grupos de estudantes universitários dos cursos de direito, psicologia e pedagogia acerca do envelhecimento LGBT.
Método
Tipo do estudo
Trata-se de uma pesquisa exploratória, com ênfase na abordagem quanti-qualitativa, concretizando-se como uma pesquisa de campo com corte transversal.
Participantes
Este estudo foi realizado com a participação de 30o estudantes universitários de uma Instituição de Ensino Privada da cidade de Teresina/PI- Brasil, sendo I00 universitários para cada curso, direito, psicologia e pedagogia. A opção de pesquisar estes três cursos se deu tendo em vista que eram as graduações que a atuação mais se aproxima da temática. Com relação aos entrevistados da pesquisa, participaram estudantes do sexo masculino e feminino, as idades variaram entre 21 e 57 anos, apresentando média de idade de 28,56 anos (DP=8,59), e destes observou-se que a maioria dos estudantes entrevistados são mulheres correspondendo a 76% da amostra. Outros dados podem ser visualizados na tabela 1.
Instrumentos
Inicialmente foi solicitado autorização da Instituição, através de carta de apresentação da pesquisa, também foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os participantes, com cópias assinadas sob responsabilidade do pesquisador. Para a coleta de dados utilizou-se o questionário sociodemográfico e um instrumento para a técnica de associação livre de palavras - TALP. A finalidade do questionário sociodemográfico foi de fazer um levantamento do perfil dos participantes deste estudo, coletando informações sobre idade, sexo, estado civil, etnia, renda, orientação sexual, religião, curso que está se graduando, se tem algum parentesco com algum indivíduo com orientação sexual homossexual e se convive com algum idoso LGBT. Para a realização do TALP foi apresentado três palavras indutoras: "sexualidade", "homossexualidade" e "idoso LGBT" e o participante da pesquisa rememoravam as primeiras cinco palavras que lhe viesse à mente, em um período de três minutos e também deveriam levar em consideração a sua ordem de importância.
Procedimentos da coleta de dados
Este projeto projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da UFPI - Campus Ministro Reis Veloso, com autorização CAEE 56629616.1.0000.5669, e número do parecer 1.834.339. Foram seguidas as recomendações das resoluções 466/12 e 510/16 (Brasil, 2012; 2016) que se refere ao Conselho Nacional de Saúde (CNS) na regulamentação das pesquisas que envolvem seres humanos. Após a aprovação foi solicitado da Instituição de Ensino Superior Privada autorização para início da coleta de dados. A composição da amostra se deu de forma não probabilística, sendo os instrumentos aplicados em todos os estudantes que se dispuseram a participar da pesquisa até atingir o número máximo de participantes por curso. Com relação à aplicação dos instrumentos, se deu de forma coletiva, em sala de aula com a autorização do c00rdenador do curso e do professor, porém foi ressaltado que o preenchimento dos instrumentos deveriam ser realizados de forma individual, e que o tempo médio para preenchimento de todos os documentos seria em média de 40 minutos. Antes de responder, os participantes fizeram a leitura e assinaram o TCLE, que continha as informações sobre a pesquisa e as implicações que a participação do estudante acarretava. As questões do sigilo, risco e benefícios da pesquisa, sobre o livre arbítrio em participar ou não e até mesmo desistir de sua participação a qualquer momento sem nenhum prejuízo foram informadas a todos os alunos que aceitaram participar da pesquisa.
Procedimentos de análise de dados
Os dados sociodemográficos foram analisados através das estatísticas descritivas pelo software IBM SPSS versão 22. As informações colhidas relacionadas ao Teste de Associação Livre de Palavras - TALP foram processadas pelo software TRI DEUX MOTS, versão 2.2, que é utilizado para que se possa conhecer, com elevado nível de precisão, o significado de um grupo e o núcleo estruturante de cada representação. O Tri-Deux-Mots permite a representação gráfica, tanto das variáveis fixas (sexo, idade, graduação e orientação sexual) identificadas pelo questionário sociodemográfico, bem como as variáveis de opinião, obtidas pelas respostas dos participantes diante das palavras estímulos no TALP. Utilizou-se aqui Sexualidade (Estímulo 1), Homossexualidade (Estímulo 2) e Idoso LGBT (Estímulo 3).
De acordo com Coutinho e Saraiva (2008), a AFC é pertinente para processar e analisar os dados operacionalizados pelo Teste de Associação Livre de Palavras, visto que coloca em evidência as variáveis fixas (em colunas) e as variáveis de opinião (em linhas) que se fazem representados no plano fatorial. A partir da AFC, pode-se verificar os vínculos de atração entre os indivíduos e, simultaneamente, apresentados de forma oposta às associações de outros grupo.
Resultados
Os resultados obtidos com a TALP foram analisados à luz da análise fatorial de correspondência (AFC) através do software Tri Deux Mots, que possibilitou a visualização gráfica tanto das variáveis fixas (sexo, idade, graduação e orientação sexual) como das variáveis de opinião, que neste caso, foram as palavras ou expressões recordadas pelos entrevistados em resposta aos estímulos indutores.
Neste estudo, o somatório de todas as palavras evocadas pelo grupo de universitários participantes (n = 30o), relativos a cada estímulo indutor, foi analisado em função da frequência e da relevância às variáveis fixas (sexo, idade, graduação e orientação sexual), determinando assim o espaço fatorial. Através da análise fatorial de correspondência, pôde-se perceber os vínculos estabelecidos entre as características dos universitários e suas respostas às palavras indutoras.
Os dados apresentados na Figura I correspondem às Representações Sociais da Velhice LGBT apreendidas nos três grupos de pesquisados: estudantes do curso de direito, psicologia e pedagogia, nos quais encontram-se inseridos os atores sociais da presente investigação. Observa-se que as Representações sociais elaboradas pelos discentes estão organizadas no plano fatorial, tendo como pressuposto as palavras evocadas nos estímulos indutores (EI - Sexualidade; E2 -Homossexualidade e E3 - Idosos LGBT) que se encontram interligadas em dois fatores FI e F2.
No que diz respeito ao quadrante 1 do lado esquerdo do figura 1, encontra-se o campo semântico das R.S. dos estudantes do curso de psicologia. Ao observar as respostas ao estímulo sexualidade (EI), denota-se que a mesma foi objetivada nas representações sociais dos estudantes como "tesão", "libido", vontade que faz parte das pessoas e que estas buscam o "prazer", ou seja, buscam a satisfação de seus "desejos". No que diz respeito a homossexualidade (E2), estes estudantes representam-na como fazendo parte da "afetividade", geralmente relacionado a questões de gênero e que deve ser "aceita". No que se refere à velhice LGBT (E3), os estudantes dessa graduação mencionaram que essas pessoas terão mais "dificuldades" para poder expressar sua sexualidade e que pode acarretar sentimentos como "tristeza" e "angústia". Ao mesmo tempo em que compreendem que os idosos LGBT devem ser aceitos, também acreditam que os mesmo poderão sofrer exclusão por parte da família e da sociedade.
No quadrante oposto, ainda no lado esquerdo, relacionado ao fator I, os estudantes de todos os cursos que participaram da pesquisa, com orientação sexual bis-sexual, ancoraram suas representações acerca da sexualidade (EI) na aceitação mas também que a sexualidade esta relacionada ao prazer. No que diz respeito a homossexualidade (E2), esses estudantes ancoraram suas representações da homossexualidade como sendo uma ato de "coragem" mas também de "desejo" e que isso pode trazer "felicidade" para as pessoas. No que diz respeito a velhice LGBT (E3) as R.S. desses estudantes é que deve haver "compreensão" para a expressão desses "afetos", mas que por outro lado esses idosos podem sofrer "solidão" e também "exclusão".
No que diz respeito ao quadrante da parte direita do fator I, pode-se observar as representações sociais dos estudantes do curso de direito do sexo masculino. Nesse caso, observa-se que as variáveis fixas ficaram num momento de transição e a interpretação dos clusters do lado direito foram unificados. No que diz respeito à sexualidade (EI) foram observadas representações como: "igual" e "amizade", referindo-se a sexualidade como uma questão de igualdade entre homens e mulheres e pautada numa relação que envolve sentimento. No que diz respeito à homossexualidade (E2), estes alunos relacionamna como uma questão inerente a "humanidade", "normal", uma "opção" e que é permeada de "sentimentos". Com relação à velhice LGBT, esta é vista por estes estudantes como "livre", que as pessoas são livres para poder expressar sua sexualidade, que é uma relação de "carinho" e que merecem "respeito".
Na parte superior do fator 2 observou-se que os estudantes de todos os cursos que encontram-se na faixa etária de 28 a 33 anos ancoram suas representações a respeito da sexualidade (Ei) como a "liberdade" que "homens" e "mulheres" e "gays" têm de exercêla, porém a vivência da sexualidade pode provocar "doenças". Observa-se que para este grupo de estudantes, a sexualidade está relacionada à orientação "heterossexual" e à "família". No que diz respeito a homossexualidade (E2) estes alunos compreendem que essas pessoas devem ser "livres", ou seja, deve ter liberdade para expressar sua orientação sexual. Ao referir-se à velhice LGBT (E3) estes estudantes ancoram sua representações como sendo, esses idosos, pessoas "experientes" e que a expressão dessa orientação é algo "estranho" e "diferente".
Na parte inferior do fator 2 pôde-se observar a incidência de algumas variáveis fixas que formaram uma espécie de "nuvens de representações". Inicialmente, pode-se discutir as representações sociais dos estudantes de pedagogia. No que se refere a sexualidade (EI), eles compreendem como uma relação de "amor" e "respeito". Sobre a homossexualidade (E2), ancoram suas representações como sendo uma relação "sexual" que envolve "amor". Sobre o envelhecimento LGBT (E3), não foram observadas expressões que retratassem de forma representativa os juízos dos estudantes.
Ainda na parte inferior do fator 2, observou-se que para todos os estudantes participantes da pesquisa, algumas representações foram agrupadas de acordo com determinadas variáveis fixas. Para o grupo de estudantes que não informaram a idade, eles compreendem que a sexualidade (Ei) é uma "opção" que as pessoas têm de vivenciar. Em relação à homossexualidade (E2) eles representam que é algo que pode provoca "medo" nesses indivíduos por assumir essa orientação sexual, mas que ao mesmo tempo é uma relação de "carinho". Sobre o envelhecimento LGBT, eles ancoram suas representações como o "medo" que esses idosos têm em vivenciar sua orientação sexual.
Para os estudantes com idade a partir de 40 anos, eles compreendem que a sexualidade (Ei) está relacionada com uma relação de "carinho" que traz "vitalidade". Já com relação à homossexualidade (E2) não foram observados palavras que refletissem de forma representativa este estímulo. Já com relação ao envelhecimento LGBT (E3), eles compreendem que esses idosos sofrem bastante "discriminação". Por fim, os estudantes de todos os cursos que tem orientação sexual homossexual ou que não informaram sua orientação sexual, compreendem a sexualidade (Ei) uma relação de "companheirismo" e a homossexualidade (E2) como uma relação que traz "vitalidade". Sobre o envelhecimento LGBT não foram encontradas palavras significativas que representassem esse estímulo.
Discussão
Observou-se nos resultados apresentados na AFC uma representação da homos-sexualidade como sendo um ato de coragem para assumir sua orientação sexual, de modo que tal construção se deu pelos estudantes com orientação bissexual. Silva e Araújo (2020) discutem que a experiência LGBT é uma construção social, e que esta vivência não é inerente ao sujeito, pois ela é construída, modificada e transformada de acordo com as experiências sociossexuais e afetivas vivenciadas.
É importante mencionar que a discussão de homossexualidade e a relação com o gênero advém das discussões de movimentos sociais voltados às minorias excluídas da sociedade, que buscam o respeito à dignidade humana e o respeito a diversidade, como por exemplo os grupos LGBTs, as feministas, as discussões raciais dentre outros. Dinis e Cavalcante (2008) rememoram que as discussões sobre gênero tornaram-se mais recorrentes, principalmente devido os trabalhos desenvolvidos por grupos feministas, que questionavam as representações tradicionais que definem o que é ser homem ou ser mulher. Para Meyer (2003), as discussões sobre gênero englobam todas as formas de construção social e cultural que estão relacionadas à diferenciação entre homens e mulheres e os processos que produzem os corpos, diferenciando-os e separando-os como corpos providos de sexo, gênero e sexualidade (Meyer, 2003).
Ao referir-se à velhice LGBT, os universitários do curso de psicologia afirmaram que essas pessoas devem ser aceitas, porém sofre exclusão por conta de sua orientação sexual, o que acarreta tristeza e angústia. Os estudantes do curso de direito do sexo masculino ressaltaram a liberdade que esses idosos têm em expressar sua sexualidade, que é baseada em uma relação de carinho que merece respeito. Os estudantes que compõem o grupo dos alunos que tem mais de 40 anos destacaram a representação de que esses idosos sofrem bastante preconceito. O campo de vivências de preconceito apresenta tanto os estigmas vivenciados por estes idosos bem como a intolerância social face a experiência LGBT dos velhos, e a exclusão se faz presente por receio de sofrer discriminação ao assumir publicamente sua condição.
A patologização e criminalização da identidade de gênero limitam a agencia dos indivíduos LGBTs na tomada de decisões (Fredriksen-Goldsen et al., 2015). Os resultados apresentam com frequência uma alusão ao medo ou receio que os idosos LGBT tem em assumir sua sexualidade para a família e grupo de amigos, tanto por receio da não aceitação como por causa da intolerância religiosa. Encontra-se ainda, quando refere-se às representações do grupo de universitários que não informaram a idade, estes ressaltam que os idosos LGBTs devem ter receio de assumir sua orientação sexual por medo de exclusão. Desta maneira, estudos apontam para o estabelecimento de vínculos com outros homossexuais e com pessoas que aceitem incondicionalmente sua realidade homoafetiva (Marques & Sousa, 2016) como uma forma encontrada por estes idosos para trabalhar sua auto-aceitação.
Percebe-se também preconceito nas RS dos universitários quando remete-se às condições seguras para viver a velhice de forma tranquila. Os estudantes acreditam que se faz necessário que os idosos LGBTs tenham uma situação financeira estável, para assim poder viver a sua vida da maneira que desejar, pois caso contrário, deverá viver de acordo com as normas da família ou do seu cuidador, referindo-se assim a representação que os estudantes tem do idoso com pouca autonomia. De acordo com Leal e Mendes (2017), os idosos LGBT que representam uma parcela da sociedade mais favorecida, não tem problemas em explicitar sua orientação sexual, com uma situação econômica confortável, boa saúde, vivem com companheiros ou sozinhos (Leal & Mendes, 2017).
Merece destaque também a referência à ocorrência do preconceito por entenderem que os idosos LGBTs encontram-se em uma fase que demanda maiores cuidados por apresentarem mais fragilidade e necessidade de cuidados e por não possuírem parceiros fixos. Percebe-se que a estabilidade financeira é ponto crucial para a sua aceitação social. pode-se ressaltar que a partir das informações encontradas na TALP, os graduandos em psicologia revelam que para eles os idosos LGBT devem ter dificuldades para expressar sua sexualidade. Percebe-se que a sociedade produz uma idéia de que os idosos LGBTs estão em busca somente de satisfação de desejos sexuais, desconsiderando a necessidade que os mesmos possam vir a ter de afeto, amor, companheirismo.
A sexualidade não se resume somente ao ato sexual em si, trata-se de um misto de prazer, cumplicidade e amor entre duas pessoas, como forma de conhecimento de seu corpo e do outro, não abrange somente as questões fisiológicas, ela é concebida como um elemento que dá sentido e significado à existência humana (Vieira, Miranda, & Coutinho, 2012). Diante do exposto, se faz necessários esclarecimentos à classe universitária das diversas formas de experiênciar a sexualidade da velhice LGBT, que pode ser demonstrada muitas vezes por gestos e atitudes.
As RS do grupo pesquisado foram objetivadas nos aspectos referentes à importância do respeito, do amor, dos direitos e deveres como cidadãos. Todavia, os idosos LGBT seguem tendo grandes dificuldades de participação e representação na vida social e no exercício da cidadania, mostrando-se complexas as desigualdades enfrentadas por este público, principalmente no que se refere ao espaço social que ocupam, bem como as possibilidades e recursos para reduzir essas desigualdades. Neste sentido, percebe-se uma inclinação social a discutir muito mais o conceito de velhice, em detrimento dos direitos das pessoas idosas (Fernández-Rouco, Fernández-Fuertes & Araújo, 2020; Araújo & Fernández-Rouco, 20i6). Assim, se faz necessário desenvolver na população em geral a capacidade de compreender os aspectos biopsicossociais do envelhecimento e desenvolver nos idosos LGBT a capacidade de superar adversidades, a resiliência, de modo que enfrentar as dificuldades inerentes ao processo do envelhecimento LGBT (Santos, Carlos, Araújo, & Negreiros, 2017).
O conjunto de dados desta pesquisa é relevante na medida em que possibilita ter acesso à construção do conhecimento dos universitários que num futuro próximo poderá na atuação profissional lidar com algum idoso LGBT. Constatou-se que as RS são embasadas em estereótipos negativos acerca da velhice LGBT, de modo que estes idosos sofrem preconceitos por dois motivos: idade e orientação sexual. As informações levantadas revelaram que os integrantes desta investigação objetivaram suas RS da velhice LGBT em dois campos antagônicos, de um lado revelando o preconceito e discriminação sofridos por estes idosos e consequentemente a exclusão social e por outro lado reafirmam o direito que os velhos LGBT têm de viver seu estilo de vida sendo respeitados e assumindo os seus deveres e direitos de cidadãos.
Pode-se observar que ainda há muito o que se pesquisar sobre envelhecimento e orientação sexual. O imediatismo do tema se faz presente quando observa-se que os idosos LGBT ainda vivem de forma discriminada e marginalizada e que por esse motivo, muitas vezes escondem a sua orientação sexual. Sabe-se que tanto a revelação da orientação sexual como mantêla às escondidas, é uma decisão que traz sofrimento e exclusão e é comum a todos os LGBTs. Se durante a juventude já é motivo para preconceito por parte da família e da sociedade, não seria diferente na velhice.
Estudos sobre essa temática são escassos, principalmente no que se refere ao enfrentamento do próprio idoso LGBT às situações de preconceito, exclusão e muitas vezes violência, pois muitos desconhecem seus direitos e muitas vezes não revelam e omitem a discriminação que sofrem. É importante discutir também sobre a necessidade de políticas públicas, que se direcionadas para este público, com mais atenção, podem contribuir de forma bem mais eficaz para o empoderamento destes idosos LGBT, e obtenção de respeito e garantia de direitos.
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