Resumo
Este artigo tem objetivo de esmiuçar e refletir sobre as Práticas Rituais de duas mulheres acusadas de feitiçaria na região do Grão-Pará setecentista. Visa a uma análise mais aprofundada sobre as práticas mágicas de cura – consideradas pela Inquisição como feitiçaria – e a formação de uma cultura muitas vezes negada e demonizada pela visão europeia. As mulheres consideradas feiticeiras foram alvos de perseguições e personagens ativas na História do Grão-Pará (Brasil) no Período Colonial, o que contribuiu para a formação de uma nova identidade (múltipla) cultural na colônia. Para tal, a análise será realizada através dos documentos inquisitoriais sobre Ludovina Ferreira e da índia Sabina. Esses documentos são relativos à Visitação do Santo Ofício da Inquisição ao local entre os anos 1763-1769, e estão sob a guarda do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), em Lisboa (Portugal), mas foram digitalizados e estão disponíveis no site da Instituição. A análise toma fôlego através do conceito de Cosmohistória, desenvolvido pelo historiador mexicano Navarrete Linares, que visa reconhecer a existência de diversas historicidades multipolares e interconectadas. Para a análise da documentação utilizaremos o método Paradigma Indiciário do historiador italiano Carlos Ginzburg, que é uma categoria de investigação mais minuciosa, baseada em detalhes e indícios. E, por fim, utilizaremos o método comparativo para traçar aproximações e distanciamentos entre os casos.
Referências
Fontes primárias
Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 2705;
Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 13325;
Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 16743;
Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 13331.
Bibliografia
?Burke, Peter. Hibridismo Cultural. São Leopondo: Unisinos, 2003.
Cardoso, João Batista. Hibridismo Cultural na América Latina. Itinerários, Araraquara, no 27, 2008, p. 79-90.
Cerrutti, Simona. Who is below? E. P. Thompson, historien des sociétés modernes: une relecture. Annales HSS, octobre-décembre 2015, n° 4, p. 931-955.
Domingues, E. A pedagogia da desconfiança: o estigma da heresia lançado sobre as práticas de feitiçaria colonial durante a Visitação do Santo Ofício ao Estado do Grão-Pará (1763-1772). Campinas, SP. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, 2001.
Eliade, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
Freyre, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2003.?
Ginzburg, Carlos. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.?___________. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. Tradução: Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
Lapa, José Roberto do Amaral. Livro da Visitação do Santo Ofício da Inquisição ao Estado do Grão-Pará 1763-1769. Petrópolis: Vozes, 1978.
Mattos, Y. A última inquisição: os meios de ação e funcionamento da Inquisição no Grão-Pará pombalino (1763-1769). Niterói, RJ. Dissertação de Mestrado. Universidade Fede- ral Fluminense, 2009.
Moraes, Mayara Aparecida. Práticas mágicas e curandeirismo no Grão-Pará. Anais da Anpuh-MG, 2016.
Navarrete, Federico Linares, Hacia una cosmohistoria: las historias indígenas más allá de la monohistoria occidental. México: Universidad Nacional Autónoma de México (Instituto de Investigaciones Históricas), 2015.
Oliveira, M. Olhares inquisitoriais na Amazônia portuguesa: o Tribunal do Santo Ofício e o disciplinamento dos costumes (XVIIXIX). Manaus, AM. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Amazonas, 2010.
Resende, Maria Leônia C. de. Gentios brasílicos: índios coloniais em Minas Gerais setecentista. Tese (doutorado) – Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 2003.
Siqueira, Sônia. A Inquisição portuguesa e a sociedade colonial. São Paulo: Ática, 1978.?
Souza, Laura de Mello e. O diabo e a terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.?Stengers, Isabelle. “La proposition cosmopolitique”. In: Lolive, Jacques & Soubeyran, Olivier (eds.). L’émergence des cosmopolitiques. Paris: La Découverte, 2007, p. 45-68.
Vauchez, André. Les laics au Moyen Age: pratiques et experiences religieuses. Paris: Éditions du Cerf, 1987
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Copyright (c) 2022 Memorias